sexta-feira, agosto 28, 2009

Um pequeno conto de uma noite fria

Caminhei lentamente pela noite fria. As ruas estavam quase vazias, poucas pessoas encolhidas em seus casacos passavam pelos cantos escuros da calçada. Eu estava indo comprar algo. Sempre tive mania de ir ao mercado em horários estranhos e pouco convencionais. Mais vazio, com menos tumulto.

Estava com as mãos nos bolsos, tentava aquecê-las. Diferente dos outros, não estava preparado, esqueci meu casaco em casa. O frio, de verdade, nunca me incomodou, então realmente não fazia tanta diferença. Não enquanto eu continuasse com as mãos nos bolsos.

Meus passos eram rápidos. Gosto de andar a noite, mas não gosto. É bom, mas sempre existe aquele pequeno grau de insegurança. Malditas grandes cidades. Ou melhor, benditas grandes cidades, afinal, em que cidade pequena eu iria a um mercado após a meia noite? Não muitas.

Chegando lá havia meia dúzia de pessoas, dois caixas funcionando e as muitas prateleiras coloridas que te causam a impressão de que você está em um desenho animado. Como diria um amigo meu: “Tipicamente um desenho oriental, muito colorido e chamativo.”.

Existem pessoas que tem verdadeira paixão por mercados. Algumas dessas pertencem a minha família. Por sorte, não é meu caso. Gosto, mas não vejo a necessidade de ficar lá mais do que o suficiente. Por isso vou direto até a seção que eu queria.

Procurando entre as pequenas caixas, não encontro aquilo o que gostaria. Não é de verdade uma grande surpresa, afinal é algo que se esgota rápido. Não é tão caro, mas também não é barato. Provavelmente por isso seja tão disputado, além da grande utilidade. Difícil de encontrar, parecia que eu já procurava há dias. Talvez realmente já estivesse, porque estava desanimando.

Olhei em volta procurando melhor. Queria saber se ainda existia alguma caixinha, mesmo que em tamanho menor para poder levar comigo. Não tinha e eu já estava desistindo. Um vendedor passou rapidamente por mim, foi quando aproveitei e perguntei: Vocês ainda têm tempo?

Ele respondeu que havia acabado. Confirmando o que eu já havia constatado. Porém informou que logo chegaria mais, e me ofereceu uma outra caixa, um tanto quando azulada, bem menor, bem mais frágil e nitidamente bem mais cara.

Fiquei na duvida por um instante. Não exatamente pelo preço, mas simplesmente porque não era aquilo que eu procurava. Apesar de claramente ser algo que eu precisava.

Acabei aceitando. Agora estava novamente pensando em voltar no dia seguinte para continuar procurando o que eu queria. Passei por uma sorridente caixa. Realmente me espanta alguém estar tão feliz trabalhando aquela hora da madrugada. Mesmo com a vantagem de ser mais vazio e com menos tumulto.

Quando sai do mercado uma fraca garoa já havia começado a cair do céu. Eu gosto de chuva, principalmente quando ela te toca tão levemente que não molha, mas ainda assim você consegue senti-la.

Dessa vez caminhei lentamente segurando minha sacola. Dentro uma pequena caixinha azul onde em letras brancas estava escrito esperança. Eu ainda não tinha tempo, mas consegui algo para me fazer voltar no dia seguinte, ou até quando fosse necessário para encontrar e não desistir.