quarta-feira, novembro 02, 2011

Delírios de uma chuva inexistente

A música estava baixa, tão baixa que quase não podia ser ouvida devido a chuva. Uma chuva fina, mas as gotas com força o suficiente para marcar rosto, corpo e roupas. A luz de um único poste é fraca. Não há ninguém por perto. Só você, o escuro e o som envolvente de uma música ritmada pela chuva;

Você ensaia alguns passos. Passos esses que você nunca dá na frente dos outros. Medo de parece ridículo. Medo do que podem pensar. Medo de parecer feliz, porque não deixa de ser uma felicidade, mas você não quer ser julgado.

Então você gira. Você pula. Você corre pisando em poças sem nem se importar no estado que seus tênis irão ficar. Você olha para o alto. Você pára e respira. Você sente a chuva e a música por alguns minutos, como uma estátua de coração pulsante. Você sorri. Não porque esta feliz, apesar de não estar triste. Mas você apenas sorri.

Olhos fechados apenas para sentir melhor as gotas escorrendo por sua testa, enquanto você corre contra o vento frio. O frio que tanto te agrada porque parece perfurar e arrancar sua pele ao mesmo tempo. Um frio que dói e você gosta.

Então você pula. Pula quantas vezes acha necessário para cansar. Só que você sempre abre os olhos antes de chegar ao chão. Você sempre abre os olhos porque não tem ninguém ali para te amparar caso você escorregue. Não tem ninguém para olhar onde você vai cair, então você precisa fazê-lo para continuar em pé e poder continuar pulando.

Você sabe que isso te atrapalha. Você sabe que isso te entristece, mas sabe também que ainda não te impede de continuar a dançar, ou correr ou pular sob a luz fraca de um dia de chuva, embalado por uma música tão baixa que você quase não percebe.

Um comentário:

Filipa Santos Lopes disse...

Porque eu li-o como uma metáfora e senti essa metáfora encaixar tão bem na minha vida que... ♥