terça-feira, setembro 28, 2010

#Day 17 — Someone from your childhood


Lembro de seus cabelos loiros escondendo seus olhos atrás de sua franja. Lembro que sempre que estávamos no elevador alguma senhora elogiava seus cabelos, elogiava nossa aparente tranqüilidade, nos chamavam de pequenos anjos. Aparências enganam.

Lembro da última vez que vi sua tão elogiada franja. Era um dia comum, eu tinha acabado de chegar da escola e você veio me chamar para descer para o play, porque milagrosamente todo mundo estava lá embaixo, e era raro conseguir reunir todo mundo ao mesmo tempo no play. Eu obviamente estava pronto para ir, exceto que, meus pais não estavam, minha tia e a empregada tomavam conta de mim, minha tia havia saído e deixado ordens expressas de que eu só poderia ir para o play depois de terminar os deveres. Malditos deveres.

Então você desceu e eu fui bufando para o quarto. Maldita janela que dava exatamente de frente para onde todos brincavam e gritavam. Quem iria se concentrar quando sua própria mente estava lá embaixo com seus amigos? Eu que não, então, sem poder descer, resolvi participar a minha maneira, sem muita noção. Enchi balões de água e comecei a jogar pela janela. Não acertando ninguém, mas o espírito era que todos agora estavam atentos a minha janela. Eu não estava lá, mas estava participando.

Água, ainda era uma idéia normal, até eu ter o brilhantismo de pegar um tubo de cola colorida amarela, esticar o braço para fora da janela, apertar e nem olhar onde iria cair. E justamente onde? Em quem? Em você. Eu apenas ouvi gritos de felicidade e risos. Sua cabeça estava cheia de cola colorida amarela e todos em volta achavam muita graça.

Decidi que a melhor coisa a fazer era terminar o dever para poder descer. Feito isso, cheguei e haviam me informado, entre aplausos e urros, que você tinha subido para tomar banho e tentar tirar a cola. Você demorava, então subimos para te buscar.

Lembro até hoje do momento que toquei a campainha, e seu pai abriu a porta, vermelho, bufante, com raiva. Eu sempre imaginei que ele não gostava de mim, eu podia sentir nos comentários que ele fazia quando me via “quieto, quieto demais.”.

Então percebi que ele estava ligeiramente nervoso, e comigo. Tive a certeza quando ele gritou coisas como “irresponsável”; “garoto idiota”; “você tem noção do que fez?” e muitas das quais eu não sabia o significado, mas pelo tom não eram elogios. Obvio que não tinha noção, eu era apenas um garoto idiota de 9 anos.

Foi quando te vi atrás dele, na sua sala, através da porta, chorando, e você nunca chorava. E você estava com a cabeça raspada, cabelo extremamente curto e batido. Todos ficaram espantados e eu prendi a respiração e comecei a me arrepender, porque tinha feito meu melhor amigo chorar. A essa altura eu já ignorava seu pai gritando, estava apenas arrependido.

Muito sem graça, falei na hora que você de cabeça raspada tinha ficado até legal. Não era mentira, você realmente estava. Todo mundo concordou, ninguém riu de você, e eu fiquei satisfeito com isso. Então você sorriu e parou de chorar, foi quando voltei a respirar, e já estava pronto para descer para o play e voltar a brincar. Exceto que seu pai ainda não tinha terminado de gritar.

Até que ele finalmente perguntou se eu havia entendido, e eu prontamente respondi que sim, apesar da minha mente ignora-lo totalmente. Foi ai que ele resolveu que não deixaria mais você descer naquele dia porque eu estaria lá, ou descer quando eu estivesse no play, ou mesmo ir à minha casa. Sorte que você fez questão de ignorá-lo nessa parte, e sua mãe era partidária que você ignorasse.

Lembro também que depois desse dia você adotou o corte, e continuou raspando a cabeça durante os três últimos anos antes de você mudar.

Sinto falta dessa época, às vezes, me pergunto se hoje ainda seriamos amigos, se conseguiríamos manter aquela proximidade. Você sempre foi o mais próximo que eu tive de melhor amigo. Tínhamos gostos muito parecidos, jeitos de pensar parecidos. Gostávamos da mesma menina, a Vanessa, que sempre preferiu namorar o Caio, até porque, tínhamos o acordo de que nenhum de nós falaria com ela sobre isso. Tínhamos o mesmo gosto por dinossauros e a mesma vontade de estudar paleontologia (apesar de nenhum de nós conseguir pronunciar isso). Éramos viciados em ‘Onde está Wally?’. Passávamos grande parte do dia juntos, e tudo era feliz.

Até um dia que eu viajei nas férias, como sempre, e quando voltei você havia se mudado, e naquela época ainda não existiam e-mails, ou computadores, ou nada para manter contato. Éramos novos demais para alguém se importar em nos avisar para onde e quando iríamos, então simplesmente, um dia você sumiu e eu não tive mais noticias.

Fomos amigos por um bom tempo até, tivemos muitos histórias, aprontamos muito e nos safamos da maioria, benditos rostos angelicais. Mas realmente, gostaria de saber como seria até hoje, se o seu pai ainda não iria com a minha cara, se nós ainda teríamos gostos parecidos. Gostaria de saber se eu ainda te chamaria de melhor amigo, porque eu senti muita falta disso nos anos posteriores.

terça-feira, setembro 14, 2010

Viagem Catastroficamente Agradável

Era uma sexta-feira diferente, eu nem acordava direito e um caminhão chegava no meu prédio, a mudança estava finalmente começando, toda a bagunça de embalar as últimas caixas, carregar móveis, e várias pessoas levando minhas coisas enquanto eu simplesmente me arrumava para não me atrasar.

Ainda tive a sorte de ver alguns cômodos vazios. Estava tranqüilo, era um vazio diferente, a última mudança tinha me deixado relativamente triste, essa, estava me dando certa paz, exceto pelo caos que estava a minha volta. Não importava, era hora de ir ao aeroporto.

Uma viagem tranqüila, algumas turbulências, reclamação pessoal, mas não lembro de tantas turbulências antigamente, parece que os aviões de hoje não tem a mesma resistência. Cheguei em São Paulo, cidade agradável, aeroporto lotado, e ninguém para me buscar, isso depois de ter combinado com duas pessoas diferentes, que no fim poderiam ir para o mesmo local, que seja, não tinha ninguém.

Peguei um táxi e fui para a doceria do tio. Lugar agradável e com cheiro de chocolate. Alguns parentes, muito papo em dia, muitos doces, mais alguns doces, e outros doces, até o momento de finalmente ir ao alfaiate (nasci antes de 1990, não sei se existe outro nome para tal), tirar medidas para a futura roupa do casamento. Ser padrinho, divertido, mesmo que não tenha sido o único convite do ano.

Mas alfaiates ainda me deixam tenso. Alguém com fitas métricas, e medindo você, em diversas posições, fazendo você experimentar e trocar e vestir e tirar e trocar panos. Ainda tendo o prazer de ter sido selecionado para ir primeiro, e tendo tio e primo assistindo de camarote (eram os próximos) e fazendo piadas que deixavam até o pobre rapaz envergonhado ou rindo abertamente.

Eu sabia que demorava, não sabia que tanto. A roupa será extremamente quente, e começo a torcer para que tenha neve em outubro em São Paulo, existe alguma real chance? Algumas horas depois, todos devidamente medidos, fomos aumentar as medidas. Sim, estragar o trabalho de um alfaiate numa pizzaria é uma decisão inteligente. Por isso pedimos os 2 cm extras ao rapaz.

Sábado foi dia do chá bar, pessoas inventam cada nome, muita gente, muita festa, muita comida, poucas me agradavam, muito divertido, pouco tempo me restando. Passei o dia lá, e a noite também, chegando tarde na casa dos meus tios. Tarde o suficiente para dormir, acordar e ir embora no dia seguinte.

Acordar atrasado, me arrumar correndo, meu tio ainda fazer a surpresa de passar na loja e me abastecer de doces para trazer para casa, enquanto eu estava feliz achando que não teria que carregar bagagens extras. Outros parentes reclamando da minha ausência em visitá-los, mesmo os próprios constatando que não havia tempo. Viagem muito corrida, como eu esperava e imaginava.

No aeroporto ainda pude encontrar, atrasado obviamente, a Giu que estava tendo um ataque de risos, e a Lih com toda sua fofura e expressão indignada pelo meu atraso. Ainda tivemos tempo de comer algo, apesar da falha informação da Lih que existe comida decente no aeroporto, ri muito com elas, constatei o que já sabia, ambas são engraçadas e fofas, a Lih é fofa plus.

Subi levemente atrasado para a plataforma, ouvi meu nome ser anunciado, vi a cara feliz do funcionário da Gol quando eu cheguei correndo agitando minha passagem e ele perguntava meu nome para confirmar. Tive o prazer de ter todos os passageiros me olhando entrar, sentei e voltei feliz para casa constatando que, passar apenas um final de semana em São Paulo é muito pouco para tudo que eu queria fazer.

Minha sorte é que eu sempre volto, e espero que nessa volta as pessoas que ficaram levemente putas pela minha não-visita, fiquem mais felizes com a minha presença, o que me faz pensar o quanto elas são estranhas.

quarta-feira, setembro 08, 2010

#12 — The person you hate most/caused you a lot of pain

Admito que chega a ser irônico começar justamente pela carta que eu achei que seria a mais difícil. Difícil porque eu não costumo odiar alguém, e não lembro de muitas pessoas que me causaram algum tipo de dor.

Sinceramente, talvez nem você devesse ter essa carta direcionada, mas mesmo ainda gostando de você, mesmo que eu não sinta raiva ou rancor ou nada do gênero, principalmente por não haver motivo. Eu consegui pensar em você em um momento aleatório, consegui pensar em você como alguém que me deixou chateado e fez eu me auto questionar muito por um longo período.

Só por isso eu já deveria te admirar e te agradecer ainda mais, e realmente o faço, mas também não posso deixar de ficar triste. Afinal, eu sempre quis ser seu amigo, e sempre me esforcei demais para tal. Sempre. Talvez esse esforço em excesso que tenha atrapalhado tudo.

Eu sempre tratei todos bem. Sempre me esforcei para que gostassem de mim. Sempre fui legal com as pessoas, contigo incluso, principalmente contigo, porque eu realmente queria ser seu amigo. Eu admirava você, e achava engraçado, inteligente, e você falava coisas que eu sequer poderia imaginar ou teorizar, e acabava concordando com quase tudo no fim. Eu queria te acompanhar, queria ser como você, queria ter uma imaginação como a sua, ou simplesmente, queria pensar em coisas que fizessem você também me enxergar como alguém legal, como um amigo, como um dos seus.

Talvez eu ainda não tivesse essa capacidade, talvez ainda não tivesse muita noção, talvez eu ainda nem tenha, mas eu me esforçava para estar ali, me esforçava para agradar e muitas vezes era ignorado. Chegava a invejar os seus amigos, aqueles que você procurava, porque eu queria ser um deles, e me perguntava o que havia de diferente. O que eles tinham que aparentemente eu nunca chegaria a ter.

Eu sempre estava ali disponível para ajudar, para opinar, para ver algo novo que você tinha feito, uma foto, um texto, ou simplesmente para te ouvir, para você poder desabafar. Mas nunca era o suficiente e eu nem conseguia te culpar. Como ainda não consigo, até porque eu nunca o farei.

Eu obviamente ainda não compreendo, isso seria pedir muito, contudo tenho plena consciência que sentimento, mesmo de amizade, não é algo que se controla. É simpatia, é inexplicável, tem que ser recíproco, tem que acontecer. Você não pode gostar de alguém simplesmente porque ele também gosta de você. Não acontece assim, por mais que eu quisesse.

Não importa. Eu continuo tratando os outros bem. Continuo tentado ser legal com todos, inclusive aquelas pessoas que eu não sinta algo tão legal e profundo quanto à amizade, porque eu sei como é ruim você querer ser amigo de alguém e não conseguir, e simplesmente ser esnobado e se perguntar o que você fez de errado.

Não vou chegar a dizer que uma das minhas principais características eu aprendi com você, porque eu sempre fui assim, mas posso dizer sem medo, que a idéia amadureceu muito contigo, porque ali eu percebi que realmente machuca você admirar e querer ser amigo de alguém, mas não sentir nem um esforço vindo do outro, não receber atenção.

Eu sabia que bastava eu me afastar para você sumir, por isso faz muito tempo que não tenho noticias suas, mas é certo que quando eu me lembro de ti fico feliz. Só consigo realmente lembrar o que eu gostava em você. Parece que apesar de tudo eu ainda te respeito muito.

Mesmo depois de tanto tempo. Se a gente se conhecesse hoje talvez eu fizesse tudo diferente, ou não.

sexta-feira, setembro 03, 2010

Problema meu

Mania infantil de me preocupar demais. De me preocupar se estou ofendendo ou magoando alguém. Se algo que eu disse pode ser mal interpretado, ou se torne uma ofensa a décima potência. Medo de não ser desculpado.

Mania infantil de não revidar, de raramente retrucar. Deixar ser ofendido, até rir daquelas brincadeiras que machucam, já me habituei, apenas sentir e calar. Tudo pelo medo de ofender a quem eu me importo. Não ligo de ser ofendido. Eu nunca liguei, porque no fim eu supero. Sempre superei.

Já vi isso acontecer. Amigos brigando e ficando anos sem falar com outros por bobagens. Não perco meu tempo, porque eu supero. Fato é que as pessoas não aguentam um décimo do que elas falam ou fazem com as outras, por isso se ofendem, por isso discutem e brigam e saem magoadas. E sim, elas dificilmente superam.

Mania infantil, certo, mas sinceramente, é graças a ela que, apesar de parecer fraqueza, eu me acho mais forte que a maioria, porque eu aguento e raramente não supero.