terça-feira, abril 24, 2012

middle

Eu não lembro o dia que foi. Não lembro nem exatamente quantos anos eu tinha, apenas sei que era algo em torno de nove ou dez. Era algo novo e que mudaria minha vida, tanto que, eu não lembro mais como era antes. Não que eu não tenha lembranças de antes, apenas não lembro mais da interação dos meus pais.

Então eu me acostumei a ter pais separados, e esqueci como seria ter eles morando juntos. Não houveram brigas e nem grandes discussões, eles apenas separaram e isso deveria soar muito mais confuso na minha cabeça, só que não. Eu esqueci tanto que não lembrava de como era tê-los juntos. E era estranho, mas ao mesmo tempo me ajudou em alguns aspectos para superar. Não que tenha sido um grande problema. Eu tive minhas reações, eu tive algumas sequelas, mas nem todas foram perceptíveis, apesar de não tão pequenas. Muitas delas me acompanham até hoje, e algumas eu realmente gostaria de me livrar.

Lembro que quando me perguntavam se eu queria meus pais juntos novamente eu respondia que não. Eu realmente não fazia questão. Só que me olhavam como se eu fosse uma pessoa terrível. Eu era criança ainda, não podia ser tão ruim assim. Hoje eu fico com a impressão que eles queriam que eu sofresse muito. E não digo meus pais, mas todas as outras pessoas a volta. Até que eu fiquei com medo de dizer que me era indiferente, me senti acuado e respondia que sim, seria legal tê-los juntos de novo. Então eu tentava me forçar a lembrar como era, e até hoje são cenas que eu tenho dificuldade. Mesmo com fotos, mesmo com as histórias, é como se eu tivesse apagado tudo apesar de saber que era feliz. E não, não é um grande trauma ou tabu.

Também as vezes fico pensando no dia que meu pai me colocou no carro dele e explicou toda a situação. Lembro dele me olhando e perguntando com quem eu queria ficar. A resposta para mim era obvia, apesar de eu ser apenas uma criança. Ele também sabia que a resposta era obvia, mas eu não queria falar. Não vou dizer que foi injusto ele perguntar, porque não foi. Só que ao mesmo tempo eu realmente preferia não ter respondido nada naquele dia. De qualquer jeito não era uma opção ficar em silêncio. Então ele me olhou e disse que entendia. Acho que foi o único momento que eu me senti realmente péssimo com a separação. Não que eu não tenha sentido tristezas esporádicas depois, mas nunca um momento como aquele. E ainda diziam que eu não tinha idade para entender.

Depois disso eu me acostumei a ter pessoas que eu gosto em lugares separados. Apesar de meus pais sempre conseguirem dividir bem o mesmo espaço. Aliás, as vezes acho que eles conversam mais entre si do que comigo. Só que eu aprendi a lidar com estar com pessoas e gostar de pessoas que não se falam ou não se entendem. Aprendi a lidar com a questão de muitas vezes até querer elas juntas, e me sentir mal por elas não estarem, mas entender e aguentar. Como acontecia comigo na época da escola onde alguns dos meus melhores amigos não se suportavam, e eu tinha que conviver com eles separados e como era uma sensação estranha quando tentava colocá-los juntos, porque sim, eu tentei algumas vezes. E como isso sempre foi acontecendo ao longo da minha vida em maiores ou menores escalas. E como as vezes eu acabo falhando.

Certamente eu acho que nada será pior do que a sensação que eu tive aquele dia. Onde eu realmente me senti tendo que fazer uma escolha na qual eu perderia de qualquer forma. Por isso eu odeio colocar alguém em uma posição parecida. Eu me sinto mal com isso, e eu tenho medo de ser colocado nela de novo, mesmo que não vá doer com a mesma intensidade. Eu aprendi a lidar com tê-los em lugares diferentes. Hoje em dia eu trabalho com os dois, cada um com sua empresa. E as vezes me vejo numa situação em que ambos estão com algo urgente para resolver, e incrivelmente, meu pai sempre fala para eu resolver primeiro a questão da minha mãe. Eu apenas sinto que ele não quer de jeito nenhum me colocar de novo naquele carro.

Um comentário:

Julia disse...

a separação dos meus pais foi igual pra mim.

:**