Um dia atípico e nublado e ele estava sentando em sua cama ouvindo música em seu mp3, enquanto olhava o nada pela janela. Sua casa tinha vista para as casas vizinhas e ele poderia estar lá fora com seus amigos, mas ele não se sentia bem vindo. Ele se sentia diferente. Ele se sentia um problema.
Ele tinha olhos cinzas e cabelos cacheados que cobriam parte da testa. Ele não sabia o que queria da vida. Ele não sabia o que ia fazer amanhã, ou porque faria algo amanhã. Ele respirava calmamente apesar de seu coração estar acelerado e apertado. Ele era todo errado e podia ver isso nos olhos de sua família.
Só que ele queria ser diferente. Ele queria ser diferente do que ele era e mais parecido com todo mundo. E ele não conseguia. As pessoas diziam que ele era único. Sim, ele era, mas isso não lhe parecia mais algo bom. E ele apenas sentava na janela observando o mundo acontecer através de seus olhos cinzentos.
Ele estava sentado na cama e sua boca não se mexia, mas ele pedia socorro. Internamente ele pedia. Ele não queria aquilo, mas ninguém ouvia. Ninguém realmente ouvia. Sua mãe estava ocupada demais conversando no telefone com alguma amiga, enquanto seu pai ficava o dia inteiro no trabalho e chegava tão exausto que não conseguia trocar uma conversa mais longa do que um boa noite. Seus irmãos, ou eram pequenos demais para perceber e fazer algo por ele, ou simplesmente eram velhos demais para se importarem com alguém além deles próprios.
Seus amigos do lado de fora apenas corriam e gritavam e se xingavam e brigavam e faziam as pazes e continuavam gritando e criando coisas novas e com tanto barulho eles também não conseguiam ouvi-lo. Era um grito silenciosamente ensurdecedor. Sua boca ainda não se mexia, mas ele continuava gritando.
As nuvens lá fora tinham um tom cinza, como em seus olhos, e havia começado a chover, como em seus olhos. E o som dos trovões abafava ainda mais seu pedido silencioso. Ele pode observar todos correndo desanimados para suas casas procurando abrigo. A chuva tinha esse poder de acabar com a felicidade alheia em poucos segundos, como seus olhos.
Ele agora estava deitado na cama segurando as próprias mãos enquanto ouvia a mesma música durante todo o dia. Seu irmão entrou em seu quarto, olhou diretamente para seus olhos cinzas, reclamou algo sobre a chuva, pegou o que tinha ido buscar e saiu. Ele também não ouviu. Ninguém ouvia.
Seus cachos caiam sob sua testa. Seus olhos piscavam devagar. Ele não sabe quanto tempo ficou ali parado apenas olhando o teto aquela noite e gritando em silencio. Apenas ficou lá tempo demais. Sua respiração ia diminuindo, sua boca se mantinha fechada, ainda segurava suas mãos e pensava e lembrava e se culpava e sentia. Até que ele fechou os olhos. A escuridão cobriu o cinza e finalmente havia parado de chover.
Nenhum comentário:
Postar um comentário